10
15
20
25
Texto 1
[...] Um artista só pode exprimir a experiência daquilo que seu tempo e suas condições sociais
têm para oferecer. Por essa razão, a subjetividade de um artista não consiste em que a sua experiência
seja fundamentalmente diversa da dos outros homens de seu tempo e de sua classe, mas consiste em
que ela seja mais forte, mais consciente e mais concentrada. A experiência do artista precisa apreender
as novas relações sociais de maneira a fazer que outros também venham a tomar consciência delas [...].
Mesmo o mais subjetivo dos artistas trabalha em favor da sociedade. Pelo simples fato de descrever
sentimentos, relações e condições que não haviam sido descritos anteriormente, ele canaliza-os do seu
“Eu” aparentemente isolado para um "Nós"; e este "Nós” pode ser reconhecido até na subjetividade
transbordante da personalidade de um artista. Esse processo, todavia, nunca é um retomo à primitiva
coletividade do passado; ao contrário, representa um impulso na direção de uma nova comunidade cheia
de diferenças e tensões, na qual a voz individual não se perde numa vasta unissonância. Em todo
autêntico trabalho de arte, a divisão da realidade humana em individual é coletiva, em singular é
universal, é interrompida; porém é mantida como fator a ser incorporado em uma unidade recriada.
Só a arte pode fazer todas essas coisas. A arte pode elevar o homem de um estado de
fragmentação a um estado de ser integro, total. A arte capacita o homem para compreender a realidade
e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais
humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade social. A sociedade
precisa do artista, este supremo feiticeiro, e tem o direito de pedir-lhe que ele seja consciente de sua
função social. Tal direito nunca foi discutido numa sociedade em ascensão, ao contrário do que ocorre
nas sociedades em decadência. A ambição do artista que se apoderou das ideias é experiências do seu
tempo tem sido sempre não só de representar a realidade como a de plasmá-la, O Moisés de
Michelangelo não era só a imagem artística do homem do Renascimento, a corporificação em pedra de
uma nova personalidade consciente de si mesma. Era também um mandamento em pedra dirigido aos
contemporâneos de Michelangelo e a seus dirigentes: “É assim que vocês precisam ser. A época em que
vivemos o exige. O mundo a cujo nascimento presenciamos o requer”.
FISCHER, Emst. A necessidade da arte. Trad. Leandro Konder. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. p. 56-57.
a) Com base na leitura do texto 1, explique a relação que se estabelece entre subjetividade artística e
realidade social.
b) Identifique o referente de cada um dos pronomes assinalados no seguinte trecho do texto 1: "Pelo
simples fato de descrever sentimentos, relações e condições que não haviam sido descritos
anteriormente, ele canaliza-os do seu ‘Eu’ aparentemente isolado para um 'NósT...]”. (linhas 6-8)